Esta manhã fui beber uma bica, ao Franklin. Tomei esta decisão porque as cápsulas do Nespresso estão-se a acabar e faz-se sempre render o peixe até á última, aproveitando para dar caras na leitaria Nogueira. Como não ia lá há algum tempo, já me tinha esquecido da facilidade com que se chama bica a coisas tão distintas de café.
A situação não teria nada de mais se não fosse a envolvente, passo a explicar-me. Foi inacreditável a quantidade de moscas que lá se encontravam. Sem exagerar nem um pouquinho, eram para aí umas 20 a rodopiar baixinho, mesmo atrás de mim.
Perguntei ao Frank, enquanto lhe observava a unha comprida de estimação, a que se devia aquele despropósito. Ele, convivendo muito bem com o enxame, avançou a seguinte explicação: o problema é que elas não sobem (!?!). Estranhei a resposta para me aperceber de seguida que o electrocutor de insectos estava ligado, mas consideravelmente acima da nuvem de moscas.
Pude concluir desde logo que o ser mosca tem a sua inteligência, já que a simples observação de uma ou duas irmãs a esticar o pernil (naquele barulho arrepiante tzzz, tzzzz), gera um sinal claro ao grupo que de imediato projecta uma esfera segura para esvoaçar, numa cota inferior.
Lembrei-me ainda do velho mata moscas, de plástico, no mínimo para as enxotar dali para fora e, de aquisição fácil considerando a drogaria do Sr. Joaquim, na porta ao lado.
O Franklin, continuou pacificamente nos seus afazeres, fazendo-me ainda notar que no Verão passado não se tinham registado a presença de moscas. Nisto passou o mano Jaime, também ele atarefado e completamente indiferente ao mosquedo. Atirou um bom dia rápido e refugiou-se no lado oposto do balcão com um misto de alheamento, medo e tristeza.
Olhei em volta. As paredes de azulejo, o chão, o balcão de formica carcomida (com aquela portinhola ridícula que lhes verga o corpo à passagem), as vitrinas quase vazias mostrando aqui e ali uns produtos de mercearia. Qual o critério de escolha para aqueles produtos? Qual o sentido daquelas duas vidas? O que é facto é que todo este no sense sobrevive.
Tudo aquilo, transportou-me directamente para o alboio da quinta da Orada, no Minho.
O certo é que crescemos todos juntos e já me afeiçoei àquele discurso desconcertado e trágico-cómico, ao qual respondo aleatoriamente com sin’s, não’s e pois’s. Para além disso, devo-lhes uma eternidade do crédito de “pôr na conta” e, mesmo que algum dia venha a mudar de casa, hei-de sempre vir visitá-los como quem “vai à terra”. Enquanto bebo uma bica…
domingo, 11 de novembro de 2007
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