sábado, 8 de dezembro de 2007

Dioptrias

Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos...(Saint Exupéry)

Fixe, sendo assim já não me preocupo com a minhas dioptrias…
espera…será que se pode inferir da frase que a percepção do acessório ganha com uma adequada e profissional correcção ocular.
Neste sentido, um sujeito com acuidade visual irrepreensível (dom natural ou portador de uns bons óculos) mas, infortunadamente cardíaco, distorce a realidade na medida em que vê o acessório e, por mais que se esforce não vê o essencial. Há nesta situação um risco elevado de, ao tomar-se o primeiro pelo segundo, desenvolver inadvertidamente um comportamento fútil.
Veja-se, em oposição, aqueles que com um coração de leão e, em consequência, uma visão nítida do essencial nunca conheceram o acessório. Também não me parece bem porque achando que tudo é essencial andam por certo numa constante lufa-lufa querendo freneticamente acudir a tudo.
Em suma e quanto mais não seja para fazer a necessária escala, o essencial não vive sem o acessório, abrindo-se ainda a possibilidade de uma inversão de papéis num mesmo indivíduo.
Imagine-se ainda uma criatura que tropeça nesta frase como me aconteceu a mim no site de uma escola secundária, numa rubrica frases para pensar ou coisa parecida. Concretizando ainda mais, é funcionário público e perante a realidade dramática do país em que vivemos anda naturalmente perplexo e angustiado sem saber a que organismo pertence, se vai integrar um novo (quando, como, onde e porquê) ou, se por outro lado, vai engrossar as fileiras dos disponíveis. Pergunta-se a si próprio, atarantado, se a mobilidade especial não será qualquer coisa como lhe dizerem indirectamente que vai não tarda nada para o olho da rua. Para estes casos um confronto directo com esta frase também não augura nada de bom já que pode acrescentar à confusão instalada entre o essencial e o acessório, a aflição adicional relativa ao seu estado de saúde. Uma aproximação posterior ao sistema nacional de saúde afigura-se um remate para o abismo.

A verdade é que por mais que leia esta frase não a consigo entender. Se a primeira parte revela a importância do envolvimento afectivo, necessário para toda e qualquer coisa que se apre(e)nda, a segunda parte parece desvalorizar a reflexão racional, ainda que fosse só sobre o acessório apre(e)ndido.
Resta-me reler O principezinho (já agora sempre me irritaram as ilustrações deste livro, emotivamente falando. Porque razão que se perceba estará o cachecol do miúdo sempre na horizontal naquele que parece ser um ambiente tão livre de ventos…).