terça-feira, 27 de maio de 2008

Mensagem para Glorinha

Não podemos estar presentes pq estamos a “olhar” pela adolescente de serviço.

E ainda por cima os scones das vicentinas são tão bons.

Com o passar louco dos dias tenho a impressão que os próximos directos vão ser acompanhados com bolas de Berlim (sem creme porque não somos inconscientes de todo) e, claro, rodeadas de corte-reais, generais e coisas que tais.

Dos tiroliros que muito a estimam

Mil beijos e o poema que se segue,

Pudesse Eu

Pudesse eu não ter laços
nem limites
Ó vida de mil faces
Transbordantes
Para poder responder
aos teus convites
Suspensos na surpresa
dos instantes!

Sophia de Mello Breyner Andreson

sexta-feira, 23 de maio de 2008

decorando a casa_2

Inventário

Um dente douro
a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um polícia que diz que garante
A costureira muito desgraçada
Uma máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno
Um revolver
já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria
Um conde que
cora ao ser condecorado
Um homem que ri de tristeza
Um amante perdido encontrado
Um gafanhoto chamado surpresa
O desertor
cantando no coreto
Um malandrão que vem pe-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perde a fé
Um sujeito
enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de fato perigosos
Um instantinho de beleza
Um octogenário
divertido
Um menino colecionando estampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas

in:No
Reino Da Dinamarca(1958)




Alexandre Delgado O'Neill

decorando a casa_1

A Bicicleta

O meu marido
saiu de casa no dia
25 de Janeiro. Levava uma bicicleta
a pedais, caixa de ferramenta de pedreiro,
vestia calças azuis de zuarte, camisa verde,
blusão cinzento, tipo militar, e calçava
botas de borracha e tinha chapéu cinzento
e levava na bicicleta um saco com uma manta
e uma pele de ovelha, um fogão a petróleo
e uma panela de esmalte azul.
Como não tive mais notícias, espero o pior.

Alexandre O'Neill
in:As
horas já de números vestidas(1981)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Definição de Avó

Artigo redigido por uma menina de 8 anos e publicado no Jornal do Cartaxo. Uma delícia!


'Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.
As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.
Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas.
Nunca dizem 'Despacha-te!'. Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
Quando nos contam historias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes.
As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.
Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.
Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiver Televisão'.